Medo de dirigir

Autor Valéria Centeville –

O medo de dirigir atinge muitas pessoas na nossa sociedade e pode ter várias causas.

Pode estar ligado à dificuldade em exercer liderança e ao medo de errar, de uma forma geral. Pessoas muito perfeccionistas costumam sentir este medo. Imaginam que irão provocar um acidente e desejam controlar todo o trânsito. Mas o fato é que só podemos controlar o carro que dirigimos e olhe lá, se a pista estiver escorregadia, nem isso. Mas quem tem muita dificuldade em lidar com erros, se apavora só de pensar em correr riscos e, muitas vezes, acaba desistindo de tentar.

É muito comum uma pessoa muito tímida ou com fobia social sentir medo de dirigir. Geralmente, ela não sente medo apenas de não conseguir controlar o carro, mas também do que os outros irão pensar dela. “Já pensou se eu fizer uma barbeiragem quando estiver na frente dos meus amigos? Na frente de um barzinho? Todos irão rir de mim, achar que sou incompetente… e se eu não conseguir estacionar?” Outra dificuldade é a vergonha de ter que pedir ajuda, caso não consiga dirigir. “Já pensou se eu não consigo controlar a embreagem na subida? O que vou fazer?”. Quase todo mundo passa por esses medos quando está aprendendo a dirigir, até aprender a lidar com a nova situação de ser motorista. Mas para a pessoa que não se permite errar, a situação é bem mais difícil.

As origens deste tipo de personalidade podem ser muitas e vão desde uma educação muito rígida nesta e/ou em outras vidas até acidentes com veículos, desde bicicletas até carruagens. Uma pessoa que sofreu um acidente com algum veículo, nesta ou em outra vida, pode ter “guardado” esse trauma e hoje acreditar que dirigir qualquer coisa é perigoso, podendo sentir medo até mesmo de guiar um carrinho de bebê por acreditar que ele irá sair do seu controle.

Pessoas assim costumam sentir necessidade de controlar tudo para se sentirem seguras e, mesmo assim, não se sentem, pois sabemos que, por mais que alguém tente controlar tudo, sempre haverá algo que pode sair do seu controle. E a vida é assim mesmo, não tem jeito. Não somos perfeitos, nem deuses. A própria natureza só pode ser parcialmente controlada pelos seres humanos. Mesmo com tanta tecnologia, não conseguimos controlar enchentes e terremotos; o máximo que conseguimos é amenizar seus efeitos. Portanto, só nos resta fazer o melhor possível e relaxar, aceitando a vida como ela é. Especialmente porque preocupação não resolve problemas nem evita acidentes, mas causa stress, tensão e inúmeras doenças psicossomáticas como gastrite e pressão alta, por exemplo.

Uma pessoa calma e atenta consegue prever e controlar algumas coisas, mas uma pessoa nervosa e preocupada tem sua capacidade de raciocínio diminuída. Manter a calma é sempre a melhor solução. Mas se você não consegue fazer isso em certas situações, significa que existem emoções intensas associadas a essas situações e isso precisa ser investigado numa terapia.

A regressão de memória costuma ser muito útil e eficaz porque vai direto ao ponto do medo, à situação traumática que é a causadora do medo. Na verdade, pode ter mais de um evento relacionado a um determinado medo. Enquanto a pessoa não revive as situações traumáticas, elas ficam congeladas na psique, causando ansiedade e preocupação, sendo projetadas no futuro. E muitas vezes, a pessoa desconhece os eventos passados que estão associados ao medo que sente, o que pode provocar verdadeiro terror, como se fosse um fantasma que existe dentro dela mesma e do qual ela foge todos os dias.

Medo de dirigir e todos os outros medos têm cura. Basta que a pessoa se disponha a conhecer as situações associadas aos seus medos para desenvolver recursos conscientes e aprender a lidar com eles.

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Valéria Centeville
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